Blog do Andarilho

O dia a dia de um Andarilho pela cidade

Seguindo os passos do Andaralho do Carilho

sexta-feira, 2 de junho de 2006


Back in Black


Hoje eh um dia muito triste pra mim, perdi uma pessoa que foi muito importante na minha vida. Meu avo. Ele falesceu na quarta feira e somente hoje (sexta) fiquei sabendo disso. O que agrava mais a situacao eh que eu nao sabia o que estava acontecendo, ninguem me contou que ele estava com cancer na garganta, que estava fazendo um tratamento e que jah estava bastante debilitado. Todos jah estavam preparados para um pior, menos eu que nao sabia de nada. Pra mim o choque foi muito grande, acho que foi tao grande que na hora eu nem reagi... Minutos atras, falando com a minha avo no Brasil eu me vi diante de uma grande parte da minha vida...

Na minha infancia eu passei tempos dificeis depois da separacao dos meus pais, eu me sentia no meio da briga dos meus pais pra ver quem ficava comigo ou com o meu irmao, acabei ficando com o meu pai que me afastou da minha mae por longos 4 anos da minha infancia. Aos meus 10 anos eu vivia no inferno quando comecei a frequentar mais a casa dos meus avos e achei um oasis de traquilidade no meio daquilo tudo. A imagem que eu tinha do meu pai era a de um verdadeiro ditador, daqueles que voce tem ate medo de falar algo ou mesmo atravessar o seu caminho, e o que eu via no meu avo era um homem muito pacifico. Meu avo me trazia chicletes, doces, balas que ele comprava exclusivamente pra me dar, numa epoca que eu estava acostumado a todos quererem me tirar algo o tempo todo. Ele adorava me contar piadas, eu dava muita risada e quando eu contava a mesma piada pra outra pessoa ninguem ria, pq eu nao sabia contar como ele fazia. Meu avo foi a primeira pessoa a botar um violao na minha mao e me ensinar algo, hoje me arrependo muito de na epoca nao ter dado tanto valor a musica quanto eu dou hoje. Ele era protestante e quando eu morava com ele eu ia a igreja todas as quartas e sabados, muitas vezes nos domingos tb. Ele cantava hinos na igreja, e varios desses hinos eram de composicao dele. Taxista por profissao ele andava com um caderninho no bolso pq ele dizia que as vezes ele estava ao volante quando derepente vinha alguma melodia ou alguma letra na cabeca dele e se ele nao anotasse ele esquecia. Quando eu escrevia frequentemente nesse blog eu fazia o mesmo.

Todas as vezes que eu pego num violao pra tocar eu me lembro da primeira vez que fiz isso, eu sentado na poltrona da sala dos meus avos e meu avo sentado no sofa a minha esquerda, ele deixava o violao dele no espaco entre a poltrona e esse sofa e as vezes eu me sentava na poltrona e esticava o braco pra ficar mechendo nas cordas do violao e nesse dia eu tinha mechido nas tarrachas e desafinado o mesmo. Ele tava me falando pra mim nao fazer isso e resolveu me ensinar a tocar o instrumento, assim eu nao ficava fazendo mais aquilo pois saberia como aquilo funciona. Sempre que ele tava tocando ou compondo eu estava ali do lado olhando ele tocar. Ai ele me ensinava as letras e quando eu cantava com ele ele me corrigia. Vivia dizendo que eu tava fora do tom, ai ele falava, faz desse jeito ou de outro, e dava o tom no violao. Ele compunha uma musica eu era o primeiro a ouvi-la e cantar com ele. Foi nessa epoca que eu comecei a ouvir mais musica e prestar atencao nas melodias e talz.

Depois de um tempo meu pai me abrigou a voltar morar com ele, e controlava a minha ida a casa dos meus avos, pq quando eu ia pra la eu fazia de tudo pra nao voltar mais. Foi entao que eu descobri onde minha mae morava e fugi de casa pra ir atras dela. Depois disso passei a morar com a minha mae e nunca mais na minha vida entrei na casa do meu pai. Mas isso eh outra historia. Anos atras voltei a ver meu avo com uma certa pequena frequencia, porem depois que eu vim pra ca so falei com ele uma unica vez. Minha mae tinha me dito pra mim ligar pra ele pq ele estava doente, eu falei com ele e ele estava meio roco, so que ele estava tao otimista que eu nao percebi que a coisa era seria. Ele apenas disse que tava tomando remedio e que ia melhorar, eu pensei que fosse apenas um resfriado mais forte. No dia 19 de marco ele completou 84 anos, e como todo mundo jah sabia que ele estava mal fizeram uma puta festa, ateh o meu tio que mora em Rondonia e nao vinha a Sao Paulo ha uns 20 anos esteve na festa. Disseram que ele estava muito feliz de poder ver todo mundo junto. Nove filhos com varios filhos e alguns netos e gente pra caramba. Disseram que meu irmao nao foi, e eu me senti pessimo ao saber que eu nao estava la, pra ele foi uma despedida, disseram que depois disso foi que ele comecou a piorar.

Na quarta feira as 4:40 da tarde no Brasil o sofrimento dele terminou, minha tia disses que ele estava sentado na cama, pois jah estava deitado a muito tempo, estava com uma sonda no nariz pra se alimentar, apenas 38 kilos. Ele sentou-se e depois de um tempo minha vo percebeu que ele estava indo, chamou todo mundo mas ninguem pode fazer nada, era simplesmente como se ele tivesse caido no sono derrepente, com paz no rosto... O mesmo homem pacifico que eu me lembro. Nesse dia eu tinha chegado em casa mais cedo e resolvi ir com a Talitha ate o trabalho dela, lembro de fazer um comentario do meu vo e de pensar nele. A Talitha sai de casa as 3:40 e foi por volta dessa hora que eu pensei nele... 3:40 em Toronto sao 4:40 em Sao Paulo, na mesma hora que ele falesceu. Eu continuo sendo cetico, afinal eu sempre lembrava dele, nao foi acaso eu ter lembrado nessa mesma hora.

Agora pra mim eh uma prioridade quando chegar ao Brasil de ver todo mundo que eu amo e que foi importante na minha vida. E eh claro eu vou ateh Santana do Parnaiba pra visitar meu avo.

Jose Chaves Dias - * 19/03/1922 + 31/05/2006